Como tudo começou
Pra quem recém chegou aqui, ou pra quem me acompanha há tempos, mas não conhece essa pessoa aqui pra antes das tintas, muito prazer, eu sou a Pri Pessoa!Leonina, filha única e mimada. Eu tinha tudo pra ser metida e achada, mas na real que a síndrome do patinho feio batia FORTE! Eu era tímida, não me encaixava nos grupos, tinha um total de 0 amigos de verdade, e o que me acompanhava durante minha solidão era papel e lápis de cor.
Meus desenhos, mesmo sendo desenho de criança, sempre chamaram atenção, ouvi muitas vezes que eu estava em um nível artístico acima de outras crianças e sempre era eu que tinha que fazer a parte artística dos trabalhos em grupo.
Quando a famigerada pergunta “o que vais querer ser quando crescer?” surgiu na minha vida, a primeira resposta foi DESENHISTA. Mas é óbvio que me falaram que isso não era profissão e que eu ia morrer de fome.
Deixei meus lápis e folhas pra ficar horas em frente à televisão, e fui esquecendo daquilo que era meu por essência.
Fiz 18 anos, passei em História na UFSC, um curso que escolhi por pura rebeldia. Saí de Caxias do Sul e vim morar sozinha em Floripa, não conhecia ninguém e mais uma vez o patinho feio renasceu. É óbvio que não me encaixei na faculdade. O curso, apesar de interessante, não me permitia exercer meu lado criativo, e eu seguia com aquela sensação de que havia algo adormecido dentro de mim, mas juro que não sabia o que era. Eu só sofria, pois não tinha entendido meu lugar no mundo, e as vezes questionava o porquê da minha existência. No fundo eu me sentia uma inútil.
Durante a faculdade inteira eu participei de estágios e vivia de uma forma muito simples pra conseguir guardar dinheiro pra viajar. Eu sentia que quando pegasse a estrada, eu ia me reencontrar.
Logo que me formei, 2014, fiz uma viagem pelo Conesul, e quando estava no primeiro destino, Punta del Diablo - Uruguay, tive um momento de introspecção, e desenhei uma mandala, os traços eram grosseiros, como se nota na foto, mas algo aí despertou em mim, como se lá no fundo minha alma gritasse que era isso!
Como virei tatuadora
Quando voltei da trip, comecei a estudar mandalas, entender mais a fundo essas geometrias divinas, e comecei a desenhar mais e mais. Até que um dia minha prima Aline pediu que eu fizesse uma mandala em uma camiseta pra ela.
Topei o desafio, comprei caneta de tecido e camiseta de algodão e fiz com todo coração. Na época, postei no meu Facebook pessoal, e pra minha surpresa, comecei a receber muitas encomendas e comecei a desenvolver meu desenho cada vez mais.
Eu ainda não acreditava que podia viver com minhas artes. Via mais como um hobbie que me daria suporte enquanto eu fizesse meu MESTRADO em história cultural. Sim gente, mesmo minha alma gritando que esse não era meu caminho, eu ainda dava mais voz pros meus sabotadores, e buscava ter uma segurança.
Mesmo estudando o dia todo, eu ainda encontrei tempo pra começar a fazer aulas de desenho com o artista uruguaio Diego de los Campos. Acho que Diego nem sabe disso, mas ele me ajudou muito a me encontrar, encontrar o que eu gostava de desenhar, a ter noção de luz e sombra, não só no desenho, mas também pude me aprofundar mais na minha luz e sombra internas!
As camisetas explodiram, eu não dava conta de fazer todos os pedidos e mais a pesquisa pra dissertação do mestrado. Surgiu a necessidade de estampar algumas em larga escala. Eu não tinha ideia de como se tocava um negócio e como fazer minha marca crescer, porque realmente eu deixava meu coração me levar, mas minha mente seguia desacreditada.
Comecei a ouvir dos meus clientes de camisetas e outros artesanatos que fazia que eu tinha traço pra tatuagem. “Por que não começa a tatuar? Teus desenhos são tão lindos, quando começar vou ser tua cliente.”
Pra mim parecia algo surreal, absurdo, como que eu conseguiria ser tatuadora? Era algo que nunca tinha passado na minha cabeça, eu achava que eu nunca seria boa o suficiente. Mas confesso que de tanto ouvir isso de tantas pessoas diferentes, a ideia começou a mexer comigo.
Conversei com alguns tatuadores, me falaram que meu desenho não era desenho de tatuagem, que ia me frustrar e que não bastava saber desenhar para tatuar bem, pois as técnicas eram outras.
La Loba Studio
Depois do balde de água fria que tomei dos tatuadores, desanimei com a ideia de tatuar, mas continuei fazendo as camisetas e artesanatos. Meu companheiro da época também desenhava e começou a fazer camisetas comigo. Até que ele conversou com alguns tatuadores que super incentivaram ele, e então ele comprou os materiais e começou a tatuar. Sim gente, o mundo da tatuagem ainda é muito machista, porque a gente fazia o mesmo tipo de desenho, mas o meu desenho não era de tatuagem né!?
Essa época foi louca, pq vários clientes dele, queriam tatuar com ele, mas queriam que eu CRIASSE a arte. Fiquei basicamente um ano criando designs para tatuagem e com medo de pegar na máquina.
Depois de um ano nos bastidores, comecei a criar coragem, fiz minha primeira tattoo em 2017, em uma amiga. Não ficou perfeita, como podem ver, mas era um desenho meu, que foi idealizado por mim sem referência nenhuma, e teve um significado especial. Ali eu percebi que se eu me dedicasse, eu poderia sim ser TATUADORA.
Eu ainda não tinha meus próprios materiais, e não só minha bolsa de mestrado, mas também meu relacionamento estavam decretando seu fim. Eu estava mal, mas precisava me reerguer.
Estava desempoderada de mim mesma, tinha me misturado tanto naquela relação que não sabia direito quem eu era, minha autoestima não existia e eu pedi pro Universo um sinal.Foi quando olhei pra prateleira de livros e enxerguei aquele que me esperava a tempos: MULHERES QUE CORREM COM OS LOBOS
Abri em uma página qualquer, como quem realmente busca um conselho em um oráculo. E ali o conto PELE DE FOCA PELE DA ALMA se apresentou pra mim.Conta a história de uma criatura metade foca e metade mulher, que tem a sua pele de foca roubada por um homem. Este conto fala sobre as renúncias que fazemos de coisas que são importantes pra nós em detrimento de sabotadores internos e externos, e da importância de retornarmos ao nosso lar, ou seja, a nós mesmas, quando nos damos conta de que nos afastamos da nossa alma!
Depois de horas lendo e chorando, eu entendi que era meu momento de recuperar minha pele de foca e voltar por lar! Minha vida é uma novela, gente!
Segue a saga
O Universo me mandou outro sinal, e minha vó, 1 ano antes de falecer, quis me dar uma herança em vida, e me presenteou com 3 mil reais, que viraram os meus primeiros materiais de tattoo.
Comecei sozinha, não tive apoio de profissionais, mas tive apoio de muitos amigos que confiaram em mim, mesmo desconfiando lá do fundo 😅
Eu também fazia muitas tatuagens pequenas e comerciais pra me virar. Muita gente me disse que no início tinha que ser assim, fazer as mini tattoos do Pinterest que todo mundo quer, porque as pessoas daqui não investem em arte autoral.
Fiz muitas minis tattoos que falharam e tiverem que voltar pra retoque. Real que bati MUITO a cabeça ouvindo conselhos de profissionais mais antigos que não me ajudaram em nada.
Copiar desenhos era algo que não me deixava feliz, e aos trancos e barrancos descobri que na verdade isso é mega antiético na nova escola da tatuagem. Deixei o Pinterest e comecei a colocar energia nas minhas criações. Fiz uma série de desenhos sobre Mulheres que correm com os lobos, bombou! Tatuei praticamente todos.
Mas ainda assim me considerava uma tatuadora muito principiante, e eu já não me contentava com nada morno na minha vida. Por mais que minhas clientes gostassem das tattoos, EU não estava totalmente satisfeita.
Juntei todas as economias que tinha e que não tinha e me mandei pro Rio de Janeiro fazer um workshop profissionalizante com a @thaisvalentetattoo. Foi um importante passo, e aí eu descobri o quanto é válido fazer renúncias financeiras em detrimento do nosso aperfeiçoamento. Na real é um INVESTIMENTO.
Minhas tatuagens melhoraram muito. Fui convidada pra tatuar no Hostel Tattoo SP e expandi minhas artes pra lá e também pra Caxias do Sul. Pessoas de outras cidades começaram a viajar até mim para ter uma arte minha na pele.
Descobri que arte autoral tem um valor inestimável. No meio de todo esse turbilhão conheci meu atual companheiro, que me incentivou MUITO!
Ele começou a aprender a desenhar comigo, e me mostrou que eu também sei ensinar! Começamos a sonhar juntos e descobrimos um sonho em comum: sair pro mundão e viver de arte por onde for! Segue a saga...
O poder da arte autoral
Já vai fazer um ano... 24 de junho de 2019, decolamos rumo a Lisboa. Não fizemos roteiro, não combinei previamente com os studios, a gente simplesmente deixou que a experiência nos levasse.
Nos primeiros dias em Lisboa, olhei os perfis de studios que mais gostava e enviei e-mail me apresentando e pedindo pra ser Guest.Pra quem não sabe Guest Tattoo é o termo que usamos pra dizer que você é convidado pra tatuar durante um período pequeno em um studio que não seja o seu de residência.
Lembro do medo que senti de ser rejeitada, de meu portfólio não parecer suficiente. Meus fantasmas internos sempre vem me assombrar nessas horas onde saio da zona de conforto. Euforia. Recebi sim de alguns studios. Escolha. Optei pelo melhor!
Depois de superar o desconforto inicial, só fomos em frente. Eu fechava com os studios e o @gojohnnyd me auxiliava com a parte de marketing e produção de vídeos pra me destacar lá fora.
Tatuei em Lisboa, Porto e Ericeira em Portugal. Teve clientes que pegaram o trem vindo de outras cidades pra tatuar comigo. Conhecemos pessoas incríveis. Tenho casa pra voltar e studios pra tatuar.
Tatuei um bom tempo em Barcelona, na Espanha. Fiz clientes de várias partes do mundo. Meu espanhol ficou fluente. Fiz amigos pra toda vida.
O resultado desses trabalhos nos levou pra tirar umas férias na Tailândia. Era possível mesmo que a tatuagem autoral tinha me levado pro outro lado do mundo???
Na ilha de Koh Tao, tatuei uma portuguesa no quarto do hotel. Virou uma das minhas melhores amigas. Rodamos por Malásia, Singapura, Filipinas.
Em Bali, Indonésia, consegui ser Guest em um Templo de tatuagens, o studio dos meus sonhos! Foi uma das experiências mais incríveis da minha vida e foi onde melhorei meu inglês e me tornei milionária (pra quem não sabe, transformar dólares em rúpias indonésias, vira milhões 🤣).
Ainda vou ter que fazer uma série me aprofundando mais em cada viagem, porque foram muitas experiências que vivi e muitas portas abertas e amigos que deixei.
O foco aqui é mostrar que a arte autoral nos faz cruzar continentes, e que nenhum obstáculo parece tão grande quando você deixa a voz que grita dentro da ALMA sair!
Gratidão!
Eu nunca quis fazer morada na zona de conforto. Sempre tive vontade de ir além e realizar meus sonhos. Mas se dependesse apenas da minha força de vontade, isso NÃO seria possível!
O carinho que recebo de vocês que me acompanham por aqui, a confiança dos meus clientes do Brasil e do mundo, o suporte e apoio amoroso e financeiro que sempre tive dos meus pais e avó, a força e companheirismo do @gojohnnyd, o incentivo dos amigos, tudo isso me deu condições pra que eu chegasse no lugar de prestígio que estou hoje.
Vocês me ajudam e dão forças pra seguir em frente. O sorriso e satisfação de vocês também me move! E é pelo sorriso que vejo no final de cada sessão que busco ser melhor a cada dia!
Sou grata por quem acompanhou essa história até aqui, e mal posso esperar pelas próximas aventuras!